(só não gostei da piada da Universidade Independente... mas vá... desta vez passa...)
A troca de correspondência entre um cliente e o seu banco que insiste em tratá-lo por
engenheiro:
"(...) Na profissão, os senhores indicam-me como engenheiro civil. De facto, já tive muitas
profissões, desde consultor a docente do ensino superior, tradutor e até escritor. Mas nunca
tive o privilégio de trabalhar como engenheiro civil, até porque a minha licenciatura em
engenharia física não mo permitiria. Como tal, agradeço-lhes que retirem esse dado da
profissão, por não ser correcto nem relevante.
Com os meus cumprimentos,
José Luís Mxxxxxxxx"
"Estimado Cliente, Sr. José Luís Lxxx,
(...)
No que respeita à sua actividade profissional, e por forma a procedermos alteração da mesma
será deste modo necessário que nos remeta uma cópia certificada ou original em papel
timbrado de uma Declaração da Entidade Patronal, ou cópia certificada do Cartão Profissional,
frente e verso, ou recibo de vencimento, desde que conste profissão, entidade patronal,
situação contratual e data de admissão, documentação que poderá remeter via correio para a
Remessa Livre n.º 25009, 1144- 960 Lisboa, não sendo necessário selo, ou em alternativa
poderá apresentar os originais junto do Balcão.
Relativamente à certificação, a mesma poderá ser solicitada junto da Junta de Freguesia, dos
CTT, do Notário ou Advogado.
(...)
Encontramo-nos à sua disposição para prestar os esclarecimentos necessários.
Com os melhores cumprimentos,
Montepio,
Direcção de Marketing e Novos Canais"
" Em resposta à vossa mensagem, tenho-lhes a dizer, com toda a sinceridade, não é da vossa
conta a profissão que eu exerço ou deixo de exercer. Agora, o que não podem, de forma
nenhuma, é atribuir-me uma profissão aleatória que eu nunca exerci, como é a de engenheiro
civil. Portanto, agradeço que retirem qualquer menção à minha profissão dos vossos dados
pessoais a meu respeito, ao abrigo do direito de rectificação que me assiste, de acordo com a
legislação em vigor de protecção de dados pessoais informatizados. "
"Estimado Cliente, Sr. José Luís Lxxx,
Agradecemos, desde já, o seu contacto.
No seguimento da sua mensagem, e de acordo com a informação facultada na mensagem
envida anteriormente, indicamos que por forma a procedermos à alteração da sua Actividade
Profissional, será necessário que nos remeta a documentação solicitada, ou apresente a mesma
junto de um Balcão, estando este procedimento de acordo com o Aviso 11/05 do Banco de
Portugal.
A Caixa Económica Montepio Geral, no âmbito dos princípios que presidiram à redacção
desse Aviso, tem vindo progressivamente a promover a actualização dos Dados Pessoais dos
Clientes, sempre que as circunstâncias se enquadrem no espírito do referido Aviso.
Por este motivo, e lamentando qualquer incómodo causado, existe a necessidade de proceder à
actualização dos seus Dados Pessoais, mediante apresentação de um documento comprovativo
da sua Actividade Profissional. Em virtude de verificarmos que existem outros dados por
actualizar, solicitamos também que nos remeta copia certificada do seu Bilhete de Identidade e
Cartão de Contribuinte, ou apresente os mesmos num Balcão, para que se obtenham cópias e
se proceda à actualização.
(...)
Encontramo-nos disponíveis para prestar os esclarecimentos que considere necessários,
Com os melhores cumprimentos,
Montepio,Direcção de Marketing e Novos Canais"
"Meus caros senhores,
Eu não vou enviar a documentação que me pedem, pois insisto que a profissão que exerço não
lhes diz respeito.
Faço então o inverso do ónus da prova.
Mostrem-me os senhores os documentos em que se basearam para dizer que eu sou engenheiro
civil. Quem sabe, de posse deles, até me possa candidatar a primeiro-ministro.
Se os senhores me garantem que só efectuam essas alterações de posse de documentos
oficiais, então com certeza que tiveram acesso a um certificado de habilitações que os
informou de que eu sou engenheiro civil (espero que não sejam da Universidade
Independente). Pois, peço-lhes então que me enviem a mim uma cópia desses documentos,
pois dava-me um jeitão acrescentar às minhas habilitações as de Engenheiro Civil, que não
sou nem nunca fui. Mas, se realmente os senhores têm documentos que o provam, é porque
deve ser verdade e eu começo a perceber como é que a situação de engenheiro civil é, neste
país, uma situação muito transitória.
As vossas reservas tinham toda a razão de ser, se eu lhes tivesse a exigir que me atribuíssem
habilitações que eu não tenho. Mas a situação é perfeitamente inversa. Estão a atribuir-me um
curso que eu não tenho e uma profissão que eu não exerço. Não posso demonstrar que não sou
engenheiro civil porque não existe certificado de habilitação de não-engenheiro civil.
Por isso, repito o direito que me assiste de corrigir dados pessoais informatizados que estão
errados. E exijo que retirem a profissão de engenheiro civil.
Com os meus cumprimentos,
José Luís M"
"Estimado Cliente, Sr. José xxx,
Agradecemos o seu contacto o qual mereceu a nossa especial atenção.
Em resposta à sua mensagem, informamos que no momento em que procedeu Abertura da
conta de depósitos à ordem o registo das Habilitações Literárias, não eram efectuadas de
acordo com o Aviso 11/2005 de 13 de Julho do Banco de Portugal, o qual é transversal a todas
as Instituições e que obriga nomeadamente aquando da actualização de dados pessoais,
apresentação de comprovativo, bem como na emissão de Meios de Pagamento que os
respectivos dados pessoais e profissionais encontrem-se devidamente actualizados.
Autrora [sic], as Habilitações Literárias eram inseridas de acordo com o indicado pelo cliente,
podendo, por ventura ocorrer um erro na inserção da informação, não obstante, à presente
data, para que possamos actualizar este elemento, será necessário, apresentação do Certificado
de Habilitações, junto de um balcão ou envio de cópia certificada para a morada Remessa
Livre 25009,1144-960 Lisboa.
Salvaguardando, desta forma, que no futuro possam estar associados bloqueios que
comprometam a realização de operações através dos canais á distancia, nomeadamente do
serviço Montepio24, ou junto das Caixas Automáticas.
Aguardamos a actualização deste elemento bem como dos solicitados na mensagem anterior,
encontrando-nos disponíveis para prestar os esclarecimentos que considere necessários.
Com os melhores cumprimentos,
Montepio Direcção de Marketing e Novos Canais"
"Ou seja, segundo me estão a dizer, os senhores enganaram-se a pôr os dados, pois eu nunca
disse que era engenheiro civil. Não tinha motivos para o fazer, pois nunca o fui e não estava a
candidatar-me a um emprego como engenheiro civil na vossa empresa quando aí abri uma
conta.
Ora, porque os senhores se enganaram, agora exigem-me um certificado de habilitações que
certifique um grau que eu não tenho. Certo? Ou seja, vou à secretaria de uma faculdade de
engenharia (penso que já não posso ir à Independente, porque parece que vai fechar) e peçolhes
que me passem um certificado de habilitações em como não sou engenheiro civil. Estou
certo que devem ter lá um modelo para isso: Certificado de Habilitações de Não-Engenheiro
Civil. Depois, mando-lhes uma cópia e já posso provar ao mundo que não sou engenheiro
civil. Portanto, devo concluir que, de acordo com o vosso entendimento, qualquer cidadão que
abra conta no vosso banco é engenheiro civil até prova em contrário...
Disse alguma coisa de errado até agora?
Não lhes passa pela cabeça que é um pouco kafkiano pedir a um cliente que rectifique os
vossos erros informáticos apresentando um certificado de não habilitações que ateste que ele
não é licenciado em engenharia civil?
Fico a aguardar o prazer de mais uma das vossas respostas, pois é um ponto alto do meu dia
verificar até que ponto pode ir a rigidez burocrática de uma instituição. Peço-lhes ainda que
não levem a mal eu estar a compilar esta nossa interessante troca de mensagens num texto
humorístico que espero vir a publicar, tal é o despropósito de toda esta situação.
Com os meus estimados cumprimentos,
José Luís Mxxxxxxxx"
"Estimado Cliente, Sr. José Luís Mxxxxxxxx,
Agradecemos, desde já, o seu contacto.
No seguimento da sua mensagem, vimos informar que a situação que nos reportou foi
encaminhada para o departamento competente. Após obtermos uma resposta, procederemos de
imediato ao envio de uma mensagem.
Encontramo-nos disponíveis para prestar os esclarecimentos que considere necessário.
Com os melhores cumprimentos,
Montepio
Direcção de Marketing e Novos Canais"
"Com a curiosidade que o momento requeria, fui consultar os meus dados, para ver se já
tinham sido devidamente rectificados. Deparei-me com a seguinte pérola da titularite aguda
que assola este país:
http://bp2.blogger.com/_DDuSjczroas/RiX5eAKbTEI/AAAAAAAAADU/KEWH6uCILvI/s1
600-h/eunaosouengenheiro.jpg.png
Quando consegui parar de rir, respondi com a seguinte mensagem em três fascículos (só nos
são permitidos 2000 caracteres de cada vez)
Estimadíssimos Senhores,
Fiquei muito feliz por ver que, finalmente, tiveram a amabilidade de agir sobre os meus dados
pessoais.
Constato que ainda não lhes é possível usar o meu número de telefone porque começa por 30 e
isso faz muita confusão ao vosso departamento de informática.
No entanto, folgo em constatar que não perderam o sentido de humor no que toca aos restantes
dados pessoais.
Assim, nas habilitações literárias, de licenciado fui despromovido a 12 ano. Na verdade, tenho
o grau de mestrado em física tecnológica, mas como não faço tenções de lhes apresentar
provas desse facto, fico muito satisfeito por ao menos me reconhecerem o 12º ano sem
necessidade de prova formal.
Como não penso que sejam elitistas ao ponto de me tratarem pior por ter uma mera
escolaridade obrigatória, o 12º ano fica muito bem, pois também me deu muito trabalho a
fazer e, de facto, possuo esse grau. Deixemos, portanto, as habilitações literárias que estão
muito bem assim.
No título honorífico, puseram "sem título honorífico". Não posso deixar de confessar que me
doeu essa dura chamada à realidade. Mas, de facto, não me considero titular de nenhum título
de nobreza (tive um trisavô visconde, mas acho que já não conta), não fui ordenado sacerdote,
nunca recebi nenhuma comenda e, à semelhança do nosso Primeiro-ministro, não estou
inscrito em nenhuma ordem, tenho de me conformar à minha condição de vulgar plebeu sem
título honorífico quando, para mais, me recuso a mostrar-lhes o certificado de habilitações.
Portanto, também aqui no título honorífico, estamos de acordo. Sou simplesmente o José.
Agora, na profissão... aqui temos um problema. O problema para o qual lhes tenho vindo a
chamar a atenção: o facto de eu não ser engenheiro civil, tornou-se agora bastante mais grave.
É que acusam-me de ser engenheiro civil sem estar inscrito na ordem (caso contrário teria o
título de Eng.) e, horror dos horrores, com as habilitações literárias de um 12º ano. (Continua).
É que nem o nosso primeiro-ministro se atreveu a reclamar o título de eng. civil com um
simples 12º ano. Ele tem, pelo menos, o título do ISEC e, in dubio pro reo, afirma que
concluiu a licenciatura em engenharia civil.
Os senhores, ao dizerem que eu sou engenheiro civil sem estar inscrito na Ordem dos
Engenheiros (caso contrário, tinha o eng) e com um simples 12ºano de habilitações literárias,
colocam-me numa posição muito delicada, incorrendo mesmo num crime de usurpação de
título. E eu não tenho o aparelho do maior partido político português a proteger-me as costas
quando a coisa der para o torto.
Finalmente, chegamos ao Nome preferencial, onde contrariam disposições anteriores e me
apelidam de Eng. J. L. Mxxxxxxxx. Ora bem, até há umas semanas atrás, eu não teria grande
coisa a opôr, visto que sou licenciado em engenharia física e todos os licenciados deste país
são doutores e engenheiros. Infelizmente, agora os tempos são outros. Só pode reivindicar-se
engenheiro quem estiver inscrito na Ordem dos Engenheiros. Ora, para minha grande
vergonha, não pago quotas a tão nobre instituição, pelo que terei de abdicar daquelas três
letrinhas. Nem sequer posso pedir um simples "lic" ou um "mestre", porque na minha teimosia
me recuso a entregar-lhes o certificado de habilitações. Portanto, proponho que fique
simplesmente o José Luís Mxxxxxxxx ou o Zé, para os amigos.
Lamento o trabalho tempo e esforço que essas alterações possam causar. Espero até não
provocar um precedente grave que os obrigue a ir pedir a todos os vossos clientes Drs. e Engs.
o certificado de doutoramento ou o cartão de membro da Ordem dos Engenheiros,
respectivamente.
Mas peço-lhes, rogo-lhes, suplico-lhes, retirem o mal-fadado "Engenheiro Cívil" da minha
ficha de dados. Nunca chamei a ninguém nenhum nome que não fosse merecido. Esse é
claramente imerecido. Prometo manter todas as minhas contas no vosso estimável banco. Mas,
por favor, não digam a ninguém que eu sou engenheiro civil.
Do sempre vosso,
Zé"
A troca de correspondência entre um cliente e o seu banco que insiste em tratá-lo por
engenheiro:
"(...) Na profissão, os senhores indicam-me como engenheiro civil. De facto, já tive muitas
profissões, desde consultor a docente do ensino superior, tradutor e até escritor. Mas nunca
tive o privilégio de trabalhar como engenheiro civil, até porque a minha licenciatura em
engenharia física não mo permitiria. Como tal, agradeço-lhes que retirem esse dado da
profissão, por não ser correcto nem relevante.
Com os meus cumprimentos,
José Luís Mxxxxxxxx"
"Estimado Cliente, Sr. José Luís Lxxx,
(...)
No que respeita à sua actividade profissional, e por forma a procedermos alteração da mesma
será deste modo necessário que nos remeta uma cópia certificada ou original em papel
timbrado de uma Declaração da Entidade Patronal, ou cópia certificada do Cartão Profissional,
frente e verso, ou recibo de vencimento, desde que conste profissão, entidade patronal,
situação contratual e data de admissão, documentação que poderá remeter via correio para a
Remessa Livre n.º 25009, 1144- 960 Lisboa, não sendo necessário selo, ou em alternativa
poderá apresentar os originais junto do Balcão.
Relativamente à certificação, a mesma poderá ser solicitada junto da Junta de Freguesia, dos
CTT, do Notário ou Advogado.
(...)
Encontramo-nos à sua disposição para prestar os esclarecimentos necessários.
Com os melhores cumprimentos,
Montepio,
Direcção de Marketing e Novos Canais"
" Em resposta à vossa mensagem, tenho-lhes a dizer, com toda a sinceridade, não é da vossa
conta a profissão que eu exerço ou deixo de exercer. Agora, o que não podem, de forma
nenhuma, é atribuir-me uma profissão aleatória que eu nunca exerci, como é a de engenheiro
civil. Portanto, agradeço que retirem qualquer menção à minha profissão dos vossos dados
pessoais a meu respeito, ao abrigo do direito de rectificação que me assiste, de acordo com a
legislação em vigor de protecção de dados pessoais informatizados. "
"Estimado Cliente, Sr. José Luís Lxxx,
Agradecemos, desde já, o seu contacto.
No seguimento da sua mensagem, e de acordo com a informação facultada na mensagem
envida anteriormente, indicamos que por forma a procedermos à alteração da sua Actividade
Profissional, será necessário que nos remeta a documentação solicitada, ou apresente a mesma
junto de um Balcão, estando este procedimento de acordo com o Aviso 11/05 do Banco de
Portugal.
A Caixa Económica Montepio Geral, no âmbito dos princípios que presidiram à redacção
desse Aviso, tem vindo progressivamente a promover a actualização dos Dados Pessoais dos
Clientes, sempre que as circunstâncias se enquadrem no espírito do referido Aviso.
Por este motivo, e lamentando qualquer incómodo causado, existe a necessidade de proceder à
actualização dos seus Dados Pessoais, mediante apresentação de um documento comprovativo
da sua Actividade Profissional. Em virtude de verificarmos que existem outros dados por
actualizar, solicitamos também que nos remeta copia certificada do seu Bilhete de Identidade e
Cartão de Contribuinte, ou apresente os mesmos num Balcão, para que se obtenham cópias e
se proceda à actualização.
(...)
Encontramo-nos disponíveis para prestar os esclarecimentos que considere necessários,
Com os melhores cumprimentos,
Montepio,Direcção de Marketing e Novos Canais"
"Meus caros senhores,
Eu não vou enviar a documentação que me pedem, pois insisto que a profissão que exerço não
lhes diz respeito.
Faço então o inverso do ónus da prova.
Mostrem-me os senhores os documentos em que se basearam para dizer que eu sou engenheiro
civil. Quem sabe, de posse deles, até me possa candidatar a primeiro-ministro.
Se os senhores me garantem que só efectuam essas alterações de posse de documentos
oficiais, então com certeza que tiveram acesso a um certificado de habilitações que os
informou de que eu sou engenheiro civil (espero que não sejam da Universidade
Independente). Pois, peço-lhes então que me enviem a mim uma cópia desses documentos,
pois dava-me um jeitão acrescentar às minhas habilitações as de Engenheiro Civil, que não
sou nem nunca fui. Mas, se realmente os senhores têm documentos que o provam, é porque
deve ser verdade e eu começo a perceber como é que a situação de engenheiro civil é, neste
país, uma situação muito transitória.
As vossas reservas tinham toda a razão de ser, se eu lhes tivesse a exigir que me atribuíssem
habilitações que eu não tenho. Mas a situação é perfeitamente inversa. Estão a atribuir-me um
curso que eu não tenho e uma profissão que eu não exerço. Não posso demonstrar que não sou
engenheiro civil porque não existe certificado de habilitação de não-engenheiro civil.
Por isso, repito o direito que me assiste de corrigir dados pessoais informatizados que estão
errados. E exijo que retirem a profissão de engenheiro civil.
Com os meus cumprimentos,
José Luís M"
"Estimado Cliente, Sr. José xxx,
Agradecemos o seu contacto o qual mereceu a nossa especial atenção.
Em resposta à sua mensagem, informamos que no momento em que procedeu Abertura da
conta de depósitos à ordem o registo das Habilitações Literárias, não eram efectuadas de
acordo com o Aviso 11/2005 de 13 de Julho do Banco de Portugal, o qual é transversal a todas
as Instituições e que obriga nomeadamente aquando da actualização de dados pessoais,
apresentação de comprovativo, bem como na emissão de Meios de Pagamento que os
respectivos dados pessoais e profissionais encontrem-se devidamente actualizados.
Autrora [sic], as Habilitações Literárias eram inseridas de acordo com o indicado pelo cliente,
podendo, por ventura ocorrer um erro na inserção da informação, não obstante, à presente
data, para que possamos actualizar este elemento, será necessário, apresentação do Certificado
de Habilitações, junto de um balcão ou envio de cópia certificada para a morada Remessa
Livre 25009,1144-960 Lisboa.
Salvaguardando, desta forma, que no futuro possam estar associados bloqueios que
comprometam a realização de operações através dos canais á distancia, nomeadamente do
serviço Montepio24, ou junto das Caixas Automáticas.
Aguardamos a actualização deste elemento bem como dos solicitados na mensagem anterior,
encontrando-nos disponíveis para prestar os esclarecimentos que considere necessários.
Com os melhores cumprimentos,
Montepio Direcção de Marketing e Novos Canais"
"Ou seja, segundo me estão a dizer, os senhores enganaram-se a pôr os dados, pois eu nunca
disse que era engenheiro civil. Não tinha motivos para o fazer, pois nunca o fui e não estava a
candidatar-me a um emprego como engenheiro civil na vossa empresa quando aí abri uma
conta.
Ora, porque os senhores se enganaram, agora exigem-me um certificado de habilitações que
certifique um grau que eu não tenho. Certo? Ou seja, vou à secretaria de uma faculdade de
engenharia (penso que já não posso ir à Independente, porque parece que vai fechar) e peçolhes
que me passem um certificado de habilitações em como não sou engenheiro civil. Estou
certo que devem ter lá um modelo para isso: Certificado de Habilitações de Não-Engenheiro
Civil. Depois, mando-lhes uma cópia e já posso provar ao mundo que não sou engenheiro
civil. Portanto, devo concluir que, de acordo com o vosso entendimento, qualquer cidadão que
abra conta no vosso banco é engenheiro civil até prova em contrário...
Disse alguma coisa de errado até agora?
Não lhes passa pela cabeça que é um pouco kafkiano pedir a um cliente que rectifique os
vossos erros informáticos apresentando um certificado de não habilitações que ateste que ele
não é licenciado em engenharia civil?
Fico a aguardar o prazer de mais uma das vossas respostas, pois é um ponto alto do meu dia
verificar até que ponto pode ir a rigidez burocrática de uma instituição. Peço-lhes ainda que
não levem a mal eu estar a compilar esta nossa interessante troca de mensagens num texto
humorístico que espero vir a publicar, tal é o despropósito de toda esta situação.
Com os meus estimados cumprimentos,
José Luís Mxxxxxxxx"
"Estimado Cliente, Sr. José Luís Mxxxxxxxx,
Agradecemos, desde já, o seu contacto.
No seguimento da sua mensagem, vimos informar que a situação que nos reportou foi
encaminhada para o departamento competente. Após obtermos uma resposta, procederemos de
imediato ao envio de uma mensagem.
Encontramo-nos disponíveis para prestar os esclarecimentos que considere necessário.
Com os melhores cumprimentos,
Montepio
Direcção de Marketing e Novos Canais"
"Com a curiosidade que o momento requeria, fui consultar os meus dados, para ver se já
tinham sido devidamente rectificados. Deparei-me com a seguinte pérola da titularite aguda
que assola este país:
http://bp2.blogger.com/_DDuSjczroas/RiX5eAKbTEI/AAAAAAAAADU/KEWH6uCILvI/s1
600-h/eunaosouengenheiro.jpg.png
Quando consegui parar de rir, respondi com a seguinte mensagem em três fascículos (só nos
são permitidos 2000 caracteres de cada vez)
Estimadíssimos Senhores,
Fiquei muito feliz por ver que, finalmente, tiveram a amabilidade de agir sobre os meus dados
pessoais.
Constato que ainda não lhes é possível usar o meu número de telefone porque começa por 30 e
isso faz muita confusão ao vosso departamento de informática.
No entanto, folgo em constatar que não perderam o sentido de humor no que toca aos restantes
dados pessoais.
Assim, nas habilitações literárias, de licenciado fui despromovido a 12 ano. Na verdade, tenho
o grau de mestrado em física tecnológica, mas como não faço tenções de lhes apresentar
provas desse facto, fico muito satisfeito por ao menos me reconhecerem o 12º ano sem
necessidade de prova formal.
Como não penso que sejam elitistas ao ponto de me tratarem pior por ter uma mera
escolaridade obrigatória, o 12º ano fica muito bem, pois também me deu muito trabalho a
fazer e, de facto, possuo esse grau. Deixemos, portanto, as habilitações literárias que estão
muito bem assim.
No título honorífico, puseram "sem título honorífico". Não posso deixar de confessar que me
doeu essa dura chamada à realidade. Mas, de facto, não me considero titular de nenhum título
de nobreza (tive um trisavô visconde, mas acho que já não conta), não fui ordenado sacerdote,
nunca recebi nenhuma comenda e, à semelhança do nosso Primeiro-ministro, não estou
inscrito em nenhuma ordem, tenho de me conformar à minha condição de vulgar plebeu sem
título honorífico quando, para mais, me recuso a mostrar-lhes o certificado de habilitações.
Portanto, também aqui no título honorífico, estamos de acordo. Sou simplesmente o José.
Agora, na profissão... aqui temos um problema. O problema para o qual lhes tenho vindo a
chamar a atenção: o facto de eu não ser engenheiro civil, tornou-se agora bastante mais grave.
É que acusam-me de ser engenheiro civil sem estar inscrito na ordem (caso contrário teria o
título de Eng.) e, horror dos horrores, com as habilitações literárias de um 12º ano. (Continua).
É que nem o nosso primeiro-ministro se atreveu a reclamar o título de eng. civil com um
simples 12º ano. Ele tem, pelo menos, o título do ISEC e, in dubio pro reo, afirma que
concluiu a licenciatura em engenharia civil.
Os senhores, ao dizerem que eu sou engenheiro civil sem estar inscrito na Ordem dos
Engenheiros (caso contrário, tinha o eng) e com um simples 12ºano de habilitações literárias,
colocam-me numa posição muito delicada, incorrendo mesmo num crime de usurpação de
título. E eu não tenho o aparelho do maior partido político português a proteger-me as costas
quando a coisa der para o torto.
Finalmente, chegamos ao Nome preferencial, onde contrariam disposições anteriores e me
apelidam de Eng. J. L. Mxxxxxxxx. Ora bem, até há umas semanas atrás, eu não teria grande
coisa a opôr, visto que sou licenciado em engenharia física e todos os licenciados deste país
são doutores e engenheiros. Infelizmente, agora os tempos são outros. Só pode reivindicar-se
engenheiro quem estiver inscrito na Ordem dos Engenheiros. Ora, para minha grande
vergonha, não pago quotas a tão nobre instituição, pelo que terei de abdicar daquelas três
letrinhas. Nem sequer posso pedir um simples "lic" ou um "mestre", porque na minha teimosia
me recuso a entregar-lhes o certificado de habilitações. Portanto, proponho que fique
simplesmente o José Luís Mxxxxxxxx ou o Zé, para os amigos.
Lamento o trabalho tempo e esforço que essas alterações possam causar. Espero até não
provocar um precedente grave que os obrigue a ir pedir a todos os vossos clientes Drs. e Engs.
o certificado de doutoramento ou o cartão de membro da Ordem dos Engenheiros,
respectivamente.
Mas peço-lhes, rogo-lhes, suplico-lhes, retirem o mal-fadado "Engenheiro Cívil" da minha
ficha de dados. Nunca chamei a ninguém nenhum nome que não fosse merecido. Esse é
claramente imerecido. Prometo manter todas as minhas contas no vosso estimável banco. Mas,
por favor, não digam a ninguém que eu sou engenheiro civil.
Do sempre vosso,
Zé"