Santinhos disse:
Dinamic
Insane
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Ora bem quanto a isto tenho a referir que a mosca que me acompanhava no habitaculo nao sofreu qualquer dano ou impacto... estranho um objecto esvoaçante conseguir parar no ar num embate a 100kms/h
conclusao deviamos andar sempre com a mosca no parachoques do carro desta maneira já nao batiamos no muro
Adaptado de Vasco Pulido Valente, Público de 27 de Junho de 2007, página 7.
«Viver sem fumar charros é como escrever sem pontuação. Pelo menos, para mim. A pequena cerimónia de acender preparar um charro marca um "tempo": o princípio do dia, o princípio do trabalho, cada intervalo ou cada distracção, o alívio (ou o prazer) de acabar qualquer coisa, o almoço (quando almoço), o jantar (quando janto), o fim do dia, antes de fechar a luz, como um ponto parágrafo. O charro divide, acentua, encoraja, consola. Abre e fecha. É uma estação e uma recapitulação. "Já cheguei aqui. Falta ainda isto, isto e aquilo". Nas poucas vezes que tentei não me charrar, tinha um sentimento de desordem, de arbitrariedade, de não saber passar de um frase a outra ou de um capítulo ao capítulo seguinte. Os charrados, se repararem bem, não fumam ao acaso; fumam com ritmo. O charro também é uma companhia. Sobretudo para quem trabalha sozinho. A maior parte das pessoas vai falando, pouco ou muito, durante o trabalho. Por necessidade ou por gozo próprio. Do "serviço" à intriga, há milhares de oportunidades para o grande e simpático exercício de conhecer o próximo: para gostar dele ou para o detestar, para o observar, o comentar ou o intrigar. De porta fechada, à frente de um computador ou de um livro, não há nada à volta. Aí o charro ajuda. É um fiel amigo: a pausa que torna o resto tolerável. E que, além disso, recompensa uma boa ideia ou manifesta o entusiasmo ou a execração pelo que se leu. Com quem se pode conversar senão com o charro? De certa maneira, o charro substitui a humanidade; e não me obriguem a fazer analogias. Mas, principalmente, fumar um charro serve para pensar. Quando, a ler ou a escrever, paro a meio de uma página, porque me perdi num argumento ou não consigo imaginar como se continua, pego num charro e penso. Não me levanto, não me agito, não abro a boca, não me distraio. Fumo e procuro com paciência a asneira. O charro concentra e acalma. Restabelece, por assim dizer, a normalidade. E este efeito "normalizador" é com certeza uma das suas maiores virtudes. Não comecei a fumar charros para ser adulto ou "viril". Comecei a fumá-los porque sou horrorosamente tímido e porque o charro é com certeza a maior defesa dos tímidos. Primeiro, porque ocupa as mãos e simula um arzinho de à-vontade. E, segundo, porque esconde e protege ou cria a ilusão de que esconde e protege. Por detrás de um charro, o mundo parece mais seguro. Mesmo se andam por aí a garantir que não.»